Eu Sei, mas Não Devia ...
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora,
a tomar café correndo porque está atrasado.
A gente se acostuma a ler o jornal no ônibus
porque não pode perder tempo na viagem,
a comer sanduíches porque não tem tempo para almoçar.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes,
a abrir as revistas e ver anúncios,
a comer sanduíches porque não tem tempo para almoçar.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes,
a abrir as revistas e ver anúncios,
a ligar a televisão e assistir comerciais.
A gente se acostuma a lutar para ganhar dinheiro,
a ganhar menos do que precisa e a pagar mais do que as coisas valem.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos
e a não ter outra vista que não a das janelas ao redor.
A gente se acostuma a não abrir de todo as cortinas,
e a medida que se acostuma, esquece o sol, o ar, a amplidão.
A gente se acostuma à poluição, à luz artificial de ligeiro tremor,
ao choque que os olhos levam com a luz natural.
A gente se acostuma às bactérias da água potável,
à morte lenta dos rios, à contaminação da água do mar.
A gente se acostuma à violência, e aceitando a violência,
que haja número para os mortos.
A gente se acostuma a lutar para ganhar dinheiro,
a ganhar menos do que precisa e a pagar mais do que as coisas valem.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos
e a não ter outra vista que não a das janelas ao redor.
A gente se acostuma a não abrir de todo as cortinas,
e a medida que se acostuma, esquece o sol, o ar, a amplidão.
A gente se acostuma à poluição, à luz artificial de ligeiro tremor,
ao choque que os olhos levam com a luz natural.
A gente se acostuma às bactérias da água potável,
à morte lenta dos rios, à contaminação da água do mar.
A gente se acostuma à violência, e aceitando a violência,
que haja número para os mortos.
E, aceitando os números, aceita não haver a paz.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza para preservar a pele.
A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta,
e que de tanto se acostumar, se perde por si mesma.
A gente se acostuma, eu sei,
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza para preservar a pele.
A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta,
e que de tanto se acostumar, se perde por si mesma.
A gente se acostuma, eu sei,
mas não devia.
(Marina Colassanti)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seus comentarios, eles serão importantes para mim.
thank you!!! Magna Marques